quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ainda bem que essa merda não tem meu nome

Hoje é dia de se escrever. Mas não linhas por fazer. Linhas pra se odiar. 

Faz um punhado de sonhos que tenho odiado por vivenciar. Puta fuleragem irônica do subconsciente, quando você nunca lembra desses sacanas filmes que rolam enquanto se dorme. Mas fodido de verdade é quando as cenas embarcam na roda gigante da memória. E pior quando são pesadelos baseados em fatos reais na versão do diretor sem cortes. Tu se emputece de ter desperdiçado cada gota de irrealidade gratuita com aquelas cenas de pura escatologia cotidiana. 

Já pararam para reparar que o atraso da vida das pessoas vem montado no lombo de gente de foda meia-sola? Se não fosse o respeito a patroa – a que me faz sorrir do vera – daria o jeito que o marido maricas não dá. Na verdade, não. Não dá para culpar o coitado diabo de não se entransar com este problema humano. 

Em algumas horas me emputeço por não ser um daqueles bastardos sortudos com dinheiro para abafar o fogo do inferno. Daria nomes aos bois, nesse desabafo. O problema é a certeza que algum advogado beberia meu sangue numa xícara de 1,99. Sinal de tempos de merda: não se dá um murro no queixo e fica nisso, é preciso processar. Não vou dar mais essa raiva pra minha velha. 

Ainda. 

Aqui sim, ei de concordar: ainda bem que essa merda não tem o teu nome.

Hai kai da rotina que inveja a literatura

Não sei pra onde vai 

Só sei que, quiçá, um dia terei 

A vida simples como um haikai

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os super-heróis dos gramados

É um pássaro? É um avião? Não! É um craque de futebol, amigos. Aqui pelas bandas da terra brasilis, o molecote já pensa redondo quando não sabe nem andar. Cientistas daqueles que não têm muita ocupação poderiam pesquisar e comprovar minha teoria de que no berço, o pequeno brazuca se pega arquitetando um drible que, se bem sucedido, pode será o infortúnio para um beque central da cintura dura. Assim é o brasileiro.

Lembro da primeira vez que vi a magia de Garrincha. Parecia tão fácil quando se olhava e era tão difícil quando se tentava. O cabra de tortas pernas não era apenas um gênio. Era o “super-liso”, aquele sujeito onde o raciocínio e o passo estava sempre a pelo menos dois anos-luz do pobre diabo apelidado de “João” e tinha como uniforme as camisas listradas do grande Botafogo ou a amarelinha canarinho.

Amigos, nada povoa o imaginário coletivo tupiniquim como o sonho de se ter os super-poderes do chute fulminante, o drible desconcertante, o passe milimétrico, a roubada de bola fria e calculista, entre outros super-poderes. Pelé, Zico, Romário, Adriano, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e o Testinha (habilidoso ponta-de-lança do glorioso Rio Branco F.C.) são os super-heróis da vida real e não tem quadrinhos que representem seus feitos. Até mesmo os pequenos de outrora que hoje são marmanjos reconhecem e se duvidar soltam até uma tímida lágrima de pura nostalgia.


Claro que nesse meio, também contamos com os anti-heróis. Seria o Maradona uma versão futebolística do nosso admirável Homem de Ferro? Um cabra que por fora é o ídolo e referência de um povo como los hermanos porteños e por dentro é humano como, por culpa de seus feitos, nos faz esquecer que é. Apesar da rixa com nossos vizinhos, há de se convir que é algo sobrenatural o envolvimento entre aquele baixinho marrento e a pelota.

Na primeira queda do sofá da sala, aprendemos que voar é coisa pra bichos alados, mas Deus se compadeceu e nos ofertou o prazer celetial da primeira caneta que se dá no adversário. Podemos até não levantar um trator no muque, mas um gol de voleio nos eleva ao status de astro.

Para a alegria dos apreciadores do football, até mesmo na sua prática de maneira lúdica, cada campinho de areia tem o seu craque, o seu super-jogador mesmo que sem capa, cujo as jogadas encantam e nos apresentam ou alimentam essa paixão que vai nos acompanhar até o fim. E não tem raios de criptonita que acabem com isso.

Por aqui, não é um sujeito vestido de maneira esdrúxula, com as roupas de baixo por cima, encapado dos pés ao cocorote e se trepando em prédios que nos faz sonhar e até conhecer o sentido da palavra inveja. É uma bela pedalada ou um gol de bicicleta que brota um sorriso em nós.


PS: Este texto foi a primeira crônica encomendada para mim. Foi publicada na revista da Editora Cia dos Livros em junho de 2010.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Garçom amigo

Amigos que acompanham a estreia deste nuevo papel para rascunho virtual que será este blog, vejam só ustedes que quebro a garrafa de Sidra Cereser neste barco com uma justa homenagem lembrada aos quarenta e cinco do segundo tempo de bola rolando: o dia do garçom. Si, si, hoje falarei exatamente da figura que me traria esta garrafa de espumante barato.

Hoje é o dia do garçom e eu nem dei meus parabéns ao grande Mazin, o garçom-xerife mais bem quisto deste faroeste rio-branquense. O nome do Mazin eu nem recordo mais. Só sei que era para ser Mazinho, porém a acreanização deste apelido era inevitável.

Para quem não o conhece, recomendo que vá ao Bar do Papagaio – logo ali na Habitasa – e veja um sujeito com cigarro apagado na boca e cara de bravo. Observador, o cabra não é do tipo que fala. Está mais para aquele que provoca alguns sustos quando ri. Não é muito disso. Mas é escudeiro-fiel. Acata as ordens do patrão, o mítico Papagaio, sem questionar, porém sem a frescura puxa-saquiana típica dos trabalhos normais. Um manda, o outro obedece e pronto. Sem frescura, repito. É o Sancho Pança do Papagaio!

Como não podia deixar de ser, o cabra é tricolor das laranjeiras. Todo bom personagem é tricolor das laranjeiras (à exceção do borracheiro João Só que atendia ali no antigo Posto Parati, vascaíno enfermo). Mas pensa que ele sofre? Puerras nenhuma. Fica puto, sim. Mas nada que o desvie do foco de servir a breja rigorosamente em dia e gelada, e mantenha a ordem no recinto. O sujeito de um e sessenta de altura impõe respeito.

Ele já me recebe informando a hora precisa em que o meu querido San Pablo me provocará momentos de taquicardias e xingamentos. Nunca, nesses quase três anos de comparecimento religioso em quartas e domingos (por vezes, quintas e sábados), houve um entrevero entre Mazin e minha confraria. Dá pra notar que o Mazin aprova nossa postura respeitosa.

Pouco se importa com as teias de aranha que decoram o teto. Quer higienizinha, seu afrescalhado, procura outro bar. Mas também não relaxa quando o assunto é manter a mesa seca. Molhar a camisa com água de copo é inaceitável e ele sabe bem disso. Mazin é meio “Sr. Miyagi” e tem uma técnica exclusiva: com apenas um golpe desferido, ele consegue descascar todos os grãos de um amendoim daqueles do quinari. Duvida? Confira comigo no replay.

Aliás, o amendoim é o termômetro da satisfação dele com o freguês. Se o sujeito começa a aderir a prática de beber refrigerante, Mazin já fica meio ressabiado. Serve o refrigerante apenas em copo de plástico. É a humilhação que se completa com o não uso do golpe do amendoim. Ele joga pra você com um ar de “se vira, seu molenga”. Amendoim com casca é sua punição mais severa.

Dia desses, a distração o fez trocar a nossa emblemática Brahma por Skol. Via-se ao notar a falha, um sujeito encabulado. Como houvera de errar?! Perdera o tino pra coisa?! Nada, ele sabia que era mestre na arte de ser garçom. Levantou a cabeça e deu a volta por cima, calando os corneteiros.

Tem gente que o acha rabugento. Não faço parte dessa equipe. Sei que ele é gente boa. Não amigo de sair para pegar umas gatas, mas garante o conforto no boteco. Traga a saideira, Maizin!